sábado, 24 de maio de 2008

Bom fim de semana!

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SEM TÍTULO

Mas eu não pedi nada a ninguém,
Nem a vida, nem o estar aqui,
Nem esta dor que me alcança todos os dias,
Desta vida sem sentido.
Não pedi esta ânsia
Que não me deixa dormir
O sono dos satisfeitos.
Não pedi esta paixão
Por uma vida a querer morrer.
Não pedi ao menos sequer
Esta estranha maneira de ser.
Não pedi este desespero
De viver, sem ter vivido.
Mas deram-me tudo
Sem nada ter pedido.
Obrigaram-me a viver
A suportar-me
E até a gostar de mim.
Fizeram-me sentir
O que nunca devia ter sentido.
Fizeram-me olhar e gostar
De quem nunca devia ter gostado.
Fizeram-me acreditar
Que um dia alcançaria
Aquilo que é impossível.
Fizeram-me viver cada dia
Na esperança de ser amanhã.
Esgotaram-me a esperança,
A vida, o amor,
Abriram-me o peito dorido
E nele plantaram a flor
Do horror do dia a dia.
Deram-me até às vezes,
E só para me enganar,
Momentos de alegria.
Estou morto e ninguém sabe!
Pensam que ainda falo,
Mas já não sou eu a falar.
Pensam que ainda olho,
Mas já não sou eu a olhar.
Pensam que ainda rio,
Mas não me apetece já rir.
Pensam que ainda choro,
Mas já não posso chorar.
Querem-me aqui e agora,
Agarram-me, prendem-me,
Suplicam-me o meu martírio
Mas eu já me fui embora…

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92.01.21

4 comentários:

Tiago R Cardoso disse...

Nesse caso, outro bom fim de semana, boa escrita sim senhor.

Anónimo disse...

Um excelente momento.
Convido-o, se assim o entender e tiver paciência para textos longos, a vir, ocasionalmente, visitar o cont(r)a corrente

Joaquim Alves disse...

Obrigado, mais uma vez Tiago!

Joaquim Alves disse...

Quintarantino

Obrigado!
Já tinhamos ultrapassado a fase do "você" e passado à fase do tu, não é verdade?
Vou visitar sim senhor, com todo o gosto.