Há uns tempos que venho debatendo um assunto sobre a guerra do Ultramar, (na qual estive), em que uns defendem que a mesma estava perdida militarmente à data do 25 de Abril, e outros, nos quais me incluo, afirmam o contrário, ou seja, que a guerra não estava perdida militarmente àquele tempo, mas que sim, estaria perdida mais tarde ou mais cedo porque são guerras que não se ganham, por causa da politica, porque são contra os ventos de mudança, e assim deve ser.
Mas ao debater este assunto, logo me veio outro ao pensamento, que é esta atitude quase nacional de nos menosprezarmos, de nos achincalharmos, de nos diminuirmos perante os outros, como se tivéssemos vergonha do nosso passado, da nossa história.
Portugal é, ao que sei, o país mais velho da Europa com as suas fronteiras definidas.
Tem uma história rica, riquíssima, a todos os níveis.
Fundou-se pela força de um homem, D. Afonso Henriques, alicerçada na vontade dum povo que já se identificava com uma nacionalidade.
Vencemos tudo e todos, a maior parte das vezes sozinhos contra inimigos bem mais poderosos e chegámos a dividir o mundo em duas partes com a nossa vizinha Espanha.
E nós Portugueses, continuamos hoje em dia muitas vezes a tentar demonstrar que não foi bem assim, que o mérito não é nosso, que as coisas não se passaram assim, que até nem tivemos valor nenhum e até pedimos desculpa pela nossa história.
Até já se fez um filme sobre as “derrotas” portuguesas, mas não se fez nenhum sobre as vitórias, sobre a gesta heróica deste povo.
Parece que temos medo, vergonha, do que os outros pensam de nós, e a todo o momento tentamos justificar as nossas atitudes, com o politicamente correcto, e tentamos imitar os outros, quando afinal nós temos uma identidade própria.
E esta atitude, este desânimo vai-se instalando e tomando conta das pessoas, porque se vai reflectindo no Estado, na governação.
Em vez de tentarmos corrigir o que está errado, tentamos mostrar com estatísticas um hipotético sucesso, apenas para mostrar aos outros que afinal “somos bons” e estamos bem.
Ouvia há uns tempos uma palestra do Dr. Paulo Teixeira Pinto em que este dizia que há três maneiras de mentir:
Uma é mentir, faltar à verdade, outra é omitir a verdade e a outra é fazer estatísticas.
Assim estamos nós.
As notas não são boas a matemática? Façam-se as provas mais simples e as estatísticas demonstrarão que melhorámos.
Há muitos acidentes rodoviários e a culpa é muitas vezes das estradas? Coloquem-se traços contínuos em rectas de 5 Kms, coloquem-se restrições de velocidade, tipo 40Km/H que ninguém pode cumprir, coloquem-se semáforos que acendem o encarnado ao mínimo movimento do veículo e que portanto ninguém obedece, e assim nas estatísticas aparecerá a culpa do condutor e não das estradas.
Não há bons serviços de saúde?
Façam-se estatísticas que provem que afinal os doentes não são doentes, mas apenas “gente chata” que não tem mais que fazer.
Há gente que não tem que comer e tem fome? Façam-se estatísticas de quantos recebem o Rendimento Social, ou lá como é que isso se chama, para provar que tudo está controlado.
Há gente que não tem emprego? Façam-se estatísticas aproveitando as sazonalidades para provar que afinal o desemprego até está a diminuir.
E por aí fora!
E depois?
Depois os cidadãos ficam iguais ao Estado e também querem mostrar aquilo que não são.
Trabalhamos mais do que o normal, tirando tempo à família, aos filhos, apenas para termos aquilo que muitas vezes já não é necessário, mas o vizinho tem.
Endividamo-nos para ter igual ao vizinho ou melhor, até para mostrarmos que somos bem mais sucedidos.
Vamos para férias distantes em lugares exóticos, comprometendo o orçamento familiar, mas mostrando aos outros que também somos “gente”.
Dizemos lugares comuns, porque toda a gente diz e fica bem.
Alegramo-nos porque há “gajos” que aos chutos numa bola ganham mais num mês do que aquilo que nós havemos de ganhar uma vida toda a trabalhar.
E tantas coisas mais!
Lembram-se da frase que para mim foi terrível:
«Somos os bons alunos da Europa!»
Que é esta merda?
Bons alunos?
Ou fazemos ou não fazemos, ou temos gente que nos governe ou temos gente que se governa, agora alunos!?
Reparem nos debates na Assembleia:
Mas aquilo tem alguma coisa a ver com governar ou fazer oposição?
Aquilo tem a ver com orgulho, estúpido e irracional, de quem manda e de quem quer mandar.
Tudo o que o Governo faz está errado! Tudo o que a oposição diz não serve para nada! É isto que sai daquelas intermináveis discussões, por vezes, muito mal educadas.
Os gajos sentem-se insultados?
Insultados somos nós que os lá colocamos para os gajos se servirem, se armarem em importantes, para pensarem e se arvorarem em “patrões”!
Mas afinal quem é aqui o “patrão”?
Somos nós, os Portugueses, ou não?
Não, não somos, porque vamos permitindo que tudo façam, vamos permitindo que digam mal de nós como povo, e nós próprios nos vamos diminuindo nas conversas, nos confrontos, nas comparações!
Temos de acordar, a história espera por nós!
Estamos cansados da história ou apenas não somos capazes de reagir?
Não, não é pelo futebol, nem pelas estatísticas que seremos reconhecidos, mas pela vontade indómita de um povo que se fez a si próprio, que se mostrou ao mundo, e que pode voltar a mostrar a tempera dos Portugueses se nos deixarmos de imitações, de “politicamente correctos”, de invejas de vizinhos, para traçarmos o nosso caminho, com os outros, mas com a nossa identidade.
E não me venham com a história de que isto é discurso nacionalista, ou quejando, porque não é disso que se trata, mas sim de assumirmos que somos um povo e que podemos, se quisermos!
Não me venham com frases feitas, importadas de outras culturas!
Nós somos nós e é connosco que temos de construir Portugal!
Não temos que nos preocupar com coisas paralelas, como o tabaco e tanta merda que se discute que será importante, é certo, mas ainda não é relevante quando há portugueses sem emprego, sem casa, sem comida.
Chega de dizer mal de nós próprios e de permitirmos que os governos e as oposições façam de nós “coitadinhos”!
Chega de ver um país verde, lindo, “escortanhado” de obras de fachada, como as auto-estradas e tantas outras “obras”.
Sejamos dignos da história que nos precede e fez de Portugal um país que tem uma história que se confunde em muito com a história do mundo, no penúltimo milénio da nossa era.